O último passageiro
| foto: pixabay |
Sinopse:
“O último passageiro” traz a história de uma personagem que, ao aguardar a condução de volta para casa em uma estação de transporte, acaba presa no local ao ônibus que espera demorar de passar. Cansada de tudo que tem vivido dentro e fora da estação, no desenrolar da trama, a personagem começa entra em conflito consigo e passa a questionar a própria existência e se de fato tem um lar.
Gênero: ficção
Gênero: ficção
I
Sou indiferente ao passar pelas luzes dos ônibus e por pessoas desconhecidas. Há um vai e vem de gente, sons, cheiros e cores ao meu redor, mas tudo é tão veloz que não consigo fixar nada em mim por tanto tempo. Estou é cansada. Cansada demais para reagir a qualquer estímulo desse mundo selvagem. O dia termina de escurecer e estou sentada à espera do ônibus para me levar de volta para casa.
– Ei, dona. Está interessada em pegar empréstimo? – diz um homem de meia idade ao me entregar um panfleto.
– Não, obrigada. – Respondo-lhe automaticamente sem nem ver a oferta.
Meu lar. Mal posso esperar para passar o resto do dia vendo algum besteirol na TV ou internet até cair no sono. Uma noite bem dormida. Isso! É exatamente disso que preciso para viver um dia bem. Acordar em paz, sabe? Concluo, enquanto enrolo mechas de cabelo umas nas outras e observo o tal panfleto.
O silêncio toma forma e, quando dou por mim a estação
está praticamente sem ninguém
O último Passageiro
Não tão longe de onde estou, ouço os motores dos ônibus rangerem. É o indício de que há alguns chegando à estação. Em fileira, as pessoas que estão próximas a mim seguem um fluxo próprio até serem engolidas pelo carro que as espera de portas abertas. Que amáveis! Cada um destes seres experimenta a sensação de paz e alívio quando veem as portas.
Para mim, o som das portas me enfurece. Passam tantos carros, mas nenhum é o meu. O tempo de espera cresce e se torna cada vez mais incômodo. O ambiente, antes cheio e confuso, aos poucos começa a se esvaziar. O silêncio toma forma e, quando dou por mim, a estação está praticamente sem ninguém.
- Ô rapaz, está esperando qual linha? – Pergunta-me o fiscal da estação.
- Justamente àquela que demora. – Respondo-lhe mordendo os lábios com força e coçando a barba.
- Não deve demorar a passar, meu caro. Tenha paciência – diz o fiscal, ao mesmo tempo em que me dá as costas.
Ando para um lado e para o outro.
Sento e levanto inúmeras vezes. Paro.
O último Passageiro
Nenhum silêncio é tão assustador quanto esse que vem da estação no final da noite. Agora já não há pessoas ao meu redor. Estou sozinho. Como sou a minha única companhia, mais do que antes, tudo que desejo é chegar em casa outra vez. Quando foi a última vez que estive lá?
Imagino abrir a porta, a janela, tirar os sapatos apertados e descansar os meus pés. Imagino um bom banho e ensaio um relaxante telefonema. Para quem irei ligar? Quem poderia amortecer os desconfortos deste dia? A vontade de sair dali é emergente e me faz delirar. Ando para um lado e para o outro. Sento e levanto inúmeras vezes. Paro. Nesse instante, estou sentado num banco de plástico, que há algumas horas representou descanso, após ter passado horas em pé. Eles doem. Mas depois de um tempo esperando, o banco já não é alívio e sim castigo.
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O ÚLTIMO PASSAGEIRO - PARTE IV
O ÚLTIMO PASSAGEIRO - PARTE V
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