O luto que não vivi

cobrou juros e agora se prepara para ser liquidado







Capítulo 6

Setembro de 2013

           Eu te perguntei, Emma, o que estava acontecendo e você não soube responder. Quem de nós saberia ao certo? Estava claro, perfeitamente claro. A nossa relação estava fadada ao fracasso e eu, mais do que você, conseguia compreender o quê isso causava em meus sentimentos. Nós nos lembrávamos daquilo já vivido e conversado. Retornávamos às questões que se repetiam insistentemente, por haver em nós a obrigação de salvar algo.
As suas palavras e o seu silêncio constante me diziam sobre o luto que estava sendo adiado, mas que dava os sinais da necessidade em ser vivido de uma vez por todas. A distância e a desigualdade entre nós me machucava, sobretudo com a confissão de que tudo que nós vivemos não significou nada além da convivência por conveniência. Machucava perceber que tudo que eu sentia e mantinha com carinho era perecível, sem valor, passível do descarte e esquecimento de sua parte. 
             Você me descartou na primeira oportunidade que teve, Emma. Fez-me pensar que eu era a pior pessoa do mundo, por eu ser quem sou, pelo amor que eu sentia e você não dava valor. Quem dera isso fosse mais um clichê de uma história de amor frustrado, mas não é. Eu senti tudo em dobro e inúmeras vezes. Consequências estão em mim. É justo me preocupar com as lembranças dos outros? Eu tinha medo de ser esquecido. Porém, eu fui, e facilmente. De repente, qualquer outra pessoa tinha mais importância e eu me mantinha preso a uma sensação tola de que tudo um dia seria verdadeiro como eu acreditava viver.   
O silêncio no intervalo das palavras que saíam de você penetrava em minha alma. Tudo que eu conseguia ver era a constatação de que me envolvi demais com você, por algo que sempre esteve fadado à desigualdade e ao fracasso. O que fere é notar que durante todo esse tempo, o envolvimento em mim era profundo e, em você, superficial o bastante para ser descartado sem causar qualquer tipo de desconforto. Um filme passou na minha cabeça, diante de todo o envolvimento e provas de amor que te dei.
As palavras saíam de você de forma crua. O nosso futuro está falido. A espontaneidade que desejo não poderá vir, porque não existe nada em você capaz de te motivar a criar o vínculo necessário para manter nossa relação viva e equilibrada. Estamos em níveis desiguais, fadados a repercutir os mesmos dramas por longos anos. Eu estou fadado a viver infeliz, se continuar a esperar algo.
Chegou a hora do luto, de enterrar você e arrancar de uma vez por todas qualquer lembrança ou sentimento que ainda mantenho. Só eu sei o quão esses sentimentos são latentes e do quão adiei o luto por me manter preso a esperança de nossa união.  
           O meu erro foi acreditar em uma relação fadada à falência. Por ter me esquivado do luto, que batia na minha porta insistentemente todas as noites, ao deitar e tentar dormir. Ele queria me salvar da sensação de frustração que me aprisionava, me resgatar do cativeiro que a ilusão e a esperança me mantinha ao longo dos meses. A dor do amor que não se recebe de volta é capaz de me levar ao lugar que não desejo a ninguém. Eu estive fundo, muito mais do que imaginou e do que eu gostaria. 
 Eu percebo, diante do luto que chega a mim, que não sei quem você é de verdade, Emma. Não te reconheço e não sou capaz de mensurar o quê de verdade você me deu. Se tudo era uma obrigação, por que continuou e simulou? Não consigo encarar seus olhos novamente, por não conseguir ver nada além das suas palavras que transmitem para mim o lugar onde você me manteve, e do conforto e prazer que você sente em me manter nesse lugar. Mesmo que este seja no escuro, sozinho. No escuro e no luto, o que me motiva é que após viver o luto da perda de um amor falido, vem à superação. Um dia nos veremos em alguma situação da vida e o cumprimento será como pede:
– oi, tudo bom?
– oi, tudo bom?
            Seguiremos em lados opostos, distantes como você tanto deseja. A diferença é que eu não me importarei e sentirei algo capaz de me levar à escuridão e a frustração. O tempo passará, mais uma vez, passará. O luto da perda cessará e o novo... o novo chegará.


Nos vemos nas próximas voltas,


Adam.  




*Este texto é parte da segunda leva de capítulos do seriado Adam e Emma: uma história de (des)encontros.

 

Capítulo 7: O luto severo




  

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