Sobre os meus planos de superação, Emma

Capítulo 5
Agosto de 2013
Já faz um tempo que não te escrevo Emma
Thompus. Na realidade, achei que nunca mais iria te escrever. Parecia tudo tão certo quando lhe disse que não
iria mais sentir nada por você, que tudo estava no fim. Havia a certeza de
seguir em frente. Acho que me enganei. Dizia para mim mesmo ao levantar: “não
se pode insistir em nada que não é espontâneo” e conseguia levar a sério
por alguns dias. Esse mantra se repetia infinitamente na minha mente. Acredita
que escrevi até alguns bilhetes e os deixei espalhados pelo meu quarto e
escritório, só para o caso de me esquecer disso? Porém, nesses dias em que
seguia a risca mais um desses planos de superação, em total silêncio e distante
de você, o tempo ganhava outra dimensão e ritmo. Pareciam semanas, porque o
movimento de não procurar ou não me envolver era intenso.
Você não tem ideia de como esses dias parecem
longos, mesmo com uma infinidade de coisas sendo feitas no trabalho. Não posso
dizer que não estava ocupado, porque nunca trabalhei tanto como nos últimos
meses. Quando o outro ganha relevância nas nossas vidas é comum querer agradar,
estar perto, presentear com coisas simples, mas que nesta simplicidade há
beleza e indícios de que o ser em questão é valorizado. Bateu-me uma tristeza
ao me lembrar de você, Emma. Lembro claramente de todas as demonstrações de
carinho que materializei e você não deu importância. Durante esse tempo, sempre
esperei que ao menos uma vez você conseguisse ou tivesse vontade de demonstrar
que sente algo. Mas é tão distante essa possibilidade, que dói perceber que
estou só.
Nesse processo de amar, me obrigando a não esperar,
mas esperando; encontrei o caminho para um relacionamento destrutivo. Contudo,
ele só se tornou perceptível quando a dor se tornou realmente insuportável e eu
vi que a minha vida estava em completo caos e abandono. Clichêzão esse bordão,
não é? Pena que ele é realidade. Amar por dois, sentir por dois. Uma
intensidade absurda que gerou tantas consequências em mim. Olho-me e não
consigo reconhecer a fortaleza que existia em mim antes de você me destruir.
Parece que você esgotou toda a minha reserva de confiança. É amando por dois
que se perde a autoestima, a confiança, a vontade de viver uma vida em paz e
com espontaneidade.
Difícil aceitar que o outro não nos quer por perto,
ou que não existe amor do outro lado. Aceitar que o outro não vai ligar para você,
porque não sente vontade de conversar ou saber de sua vida. Por isso, Emma, é
tão difícil acreditar e aceitar que você não me quer por perto e que você não
sente nada. Que quando eu abraço ou beijo você com intensidade e carinho, tudo
isso é amorfo e sem cor na sua vida.
Quem foi que disse que amor não precisa ser
correspondido para existir? De fato ele pode existir, mas para se manter, sem
que o outro lado corresponda, ao menos em parte, é entrar no outro lado da
pista e andar na contra mão numa velocidade absurda e que a freada brusca
provavelmente levará a destruição. E assim eu me destruí por você, Emma.
Enquanto esperava e acreditava que você seria capaz de me amar. Cedi a cada um
dos seus caprichos, abri mão de mim mesmo e materializei todas as suas
vontades. Uma contradição, porque o amor de verdade não exige e nem tem nada
disso. O que eu ganhei em troca? Um imenso vazio e frustração deixado por você.
Eu cedia por acreditar que algo em nós aconteceria
e tudo que estava desequilibrado se equilibraria, porque com os sentimentos
alinhados tudo é possível. Eu me enganei, Emma. Como eu me enganei. Depositei
tanta confiança e amor em nós que não percebi que estava me destruindo. Não
notei que eu estava não só ceifando a minha própria liberdade e autoestima,
como a minha sensibilidade de perceber o amor do outro. Olho para a gente agora
e me pergunto: por que jogou esse jogo? Se você sempre soube que eu te amava,
por que optou pela saída mais fácil de usar esse amor para massagear o ego? Por
que empurrou com a barriga, enquanto meus olhos brilhavam por você? Sinto-me
tão enfraquecido e distante de mim mesmo, louco por uma versão ou perfil para
chamar de meu.
E sobre confiar, Emma? Confiar é partilhar. Mas
essa partilha começa a perder força, quando o que você divide com o outro,
passa a ser o meio para diminuir e julgar qualquer ação. Às vezes a gente
partilha uma vida inteira com alguém, imaginando que este outro ser é capaz de
nos corresponder com a confiança e tudo não passa de um ledo engano. Mais uma
característica dessa nossa relação. Eu queria ser capaz de entender por que
ainda sinto algo por você, por que ainda me importo com a sua presença no
mundo, se você não me quer por perto. Eu estou em algum lugar do mundo que não
sei bem. Estou vestindo um perfil para que a minha vida não pare de vez. No
entanto, esse Adam que te escreve agora, Emma, é um ser ferido. Se algum dia
você for capaz de ser sensível o bastante para perceber o que foi capaz de
fazer, quem sabe se arrependa e seja capaz de um pedido de desculpas integral.
Você nunca se responsabiliza integralmente por algo, não é? Quem sabe um dia
aprenda e consiga visualizar as consequências de um envolvimento que nunca
quis.
*Este texto é parte da segunda leva de capítulos do seriado Adam e Emma: uma história de (des)encontros.
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Acompanhe a história:
Capítulo 1: Emma ThompusCapítulo 2: O reflexo do espelho de Emma Thompus
Capítulo 3: A consciência de Emma Thompus
Capítulo 4: Um amor cru demais para continuar
Capítulo 5: Sobre os meus planos de superação, Emma
Capítulo 6: O luto que não vivi
Capítulo 7: O luto severo