O Hospedeiro

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Pouco sei sobre o estranho que há em mim. Dói mais não saber o que sinto, do que sentir o que sinto. Esse estranho cria raízes profundas em todo o meu resto de ser. Ele é lascivo e cruel com os meus sonhos e me mata todos os dias em prol de sua sobrevivência. Em pouco tempo serei eu ou ele?

Eu tiro as folhas do calendário e sei que o tempo está passando e acabando para mim. Acabaram-se mil e uma versões sonhadoras de um futuro feliz. O que há de vir? Esse estranho ocupa esse corpo que um dia foi meu e ele não está preocupado com o meu fim, menos ainda de como cheguei até aqui.

Ao contrário, todos os dias o estranho sopra nos meus ouvidos e diz: desista, comece outra vez em outra vida. Parte de mim quer ceder a esta sugestão. Quem resiste a promessa de recomeço?

Minhas mil e uma versões sonhadoras me permitiam ter esperança e ocultavam esse lado frio de um mundo cada vez mais duro. Sem elas, o que sou? Sem elas, onde estou? Sou o hospedeiro de uma versão estranha de alguém lascivo e sem ilusões. Esse ser que habita aqui não tem sonhos. Por não os ter, não deixa nada mais ter.

Quem deseja ser o hospedeiro de quem destrói o que você acredita ser? Já é tão difícil ser, existir. Pior ainda é viver sem saber quem sou, sem saber o que sinto. Dói ser um mero hospedeiro apequenado pela falta de sonhos. Ainda existe futuro ou só me resta ceder e recomeçar em outra vida?




  

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