Delete, esqueça, apague: blecautes temporais


Fugir pelo caminho do esquecimento, parece muito mais fácil do que simplesmente se envolver e resolver. São vias de blecautes temporais de responsabilidade

Imagine que costuma acordar todos os dias muito cedo e que em pleno domingo de descanso, está sendo obrigado a acordar muito mais cedo do que de costume. Imagine também que mal abriu os olhos e já vem a sua mãe com uma lista de coisas para você fazer. Uma lista não muito agradável, diga-se de passagem, para quem está morto de cansaço e querendo dormir um pouco mais do que o normal.
Agora imagine que não está com a mínima vontade de fazer o que está nesta lista. Quer continuar ali, deitado, sonhando, pensando. Não quer sair dali de jeito nenhum. Sobretudo, porque está muito frio lá fora. Porém, sua mãe precisa que você cumpra a lista imediatamente.
Muito estressado e com muita raiva por ter seu momento de prazer e paz completamente interrompido pela sua mãe, sem se dar conta, solta palavras amargas e até infelizes. No momento não pede desculpa. Pois acredita que está com a razão e que a verdadeira errada é a sua mãe, por ter te acordado no meio do seu descanso. Resmunga, briga, esperneia, mas acaba indo cumprir a tal lista. Passado o sentimento do pós acordar cedoe do ser acordado, já está mais consciente.
Agora começa a refletir no que fez nesta manhã deste domingo tão singular de sua vida. Ao refletir um pouco, começa a perceber que exagerou e muito. A sua mãe, que certamente daria a vida por você, só queria apenas um favor. Como filho e jovem, poderia muito bem fazer. Pensa em pedir desculpas imediatamente. Mas o orgulho vem à tona e sua mãe já tinha o perdoado, sem ao menos você ter pedido desculpas. Pensa em tentar esquecer e seguir em frente. Contudo, como o sentimento de culpa é muito mais pesado e danoso do que o de orgulho, deseja uma solução rápida e certeira. E então, muito feliz, você aperta um botão. O botão em questão é o botão Delete.
Apertou, esqueceu e acha que fez a sua mãe esquecer também. Achou que tudo estava resolvido e foi dormir.  Na manhã seguinte, a mesma situação do domingo é repetida e aperta o delete novamente. Não pede perdão e se sente culpado, mas isso logo é superado e todos estes sentimentos também são deletados. Uma vez que, usa sempre o mesmo botão como saída para todos os problemas da vida. Fugir pelo caminho do esquecimento parece muito mais fácil do que simplesmente se envolver e resolver. São blecautes temporais de responsabilidade.
Em um domingo, sua mãe te acorda mais cedo, desta vez para te chamar para sair. Ela deseja ir ao parque alimentar os pombos e ter um momento de felicidade com o seu tão amado filho. Muito egoísta e pouco se importando, a deixa para lá e diz que não vai. Aperta o delete mais uma vez e vai dormir normalmente.
Quando acorda, percebe que sua mãe não está mais ali. E que todas as pessoas que usou o delete já não estão próximas. Agora está sozinho. Àqueles sentimentos de culpa que um dia deletou, saem da lixeira e mostram-se vivos e pesados.  Automaticamente se torna um ser preenchido pela culpa e sem preparo algum, já que passou a sua vida inteira usando o delete para alimentar o orgulho.
Se os problemas existem -- desentendimentos, crises e perdas -- é porque de certa forma são úteis à vida, não os ignore, enfrente-os. Como na narrativa, os casos se repetem por muitas e muitas vezes, com o intuito de que nós possamos aceitar, entender e aí sim absorver a mensagem. Quando não absorvemos nos tornamos fracos e qualquer problema nos faz querer pensar o pior.
Outra questão: o orgulho. O orgulho é uma barreira que deve ser quebrada se realmente ama alguém. Sobretudo as pessoas que, por algum motivo, se sente culpado por algo. É difícil. Porém, pelas pessoas que amamos vale a pena engolir o orgulho. Citei a mãe como exemplo, mas este personagem pode ser qualquer um em nossa vida. Às vezes ofendemos e o orgulho se faz presente naquele momento, mas o tempo passa e a culpa chega.
O delete pode ser qualquer coisa que use para escapar dos seus problemas  -- desde uma grosseria até o uso de algo para ocupar a mente -- não os enfrentado como realmente deve ser. E acredite: é melhor engolir o orgulho do que ficar com o sentimento de culpa pelo resto da vida. A vida se apresenta como uma eterna escola e estamos aqui para errar e aprender. Só assim crescemos. Dê um blecaute nos próprios medos e atire-se para resolver os problemas que estão com você. 




Comentários

Rodrigo disse…
Em: 26/04/2009 20:57:39

concordo com vc vi
as pessoas tem que deixar de lado o botão 'delete' e o orgulho tbm
Rafael R disse…
Em: 30/04/2009 10:01:37

Tbm concordo contigo. Consegui imaginar a situação. Sei como é isso pois ja passei por isso, mas tomei e tomo o cuidado de não repetir novamente, acredito eu q faço isso mais com meu pai do que com minha mãe, mas meu pai é do tipo xato e bobo (repetitivo), optei por ignorar algumas coisas que ele fala (as superflueas). Té mais^^