No fluxo, há beleza no que não aconteceu

A vida segue um próprio fluxo, independente, de forma precisa e equilibrada. Enquanto as nuvens disputam por espaço com sol no céu, pessoas de todos os tipos caminham em resposta a alguma motivação da vida. O que te levou a sair de casa hoje? As ruas da vida têm cheiros efêmeros. À cada novo passante, um novo cheiro. Cada qual com sua marca.
Há algumas folhas sambando no chão e uns panfletos de promoção. A menina meche nos cabelos longos e no celular. Sorri algumas vezes e o seu riso é de felicidade e leveza. Talvez esteja recebendo uma mensagem de alguém que goste dela. Talvez esteja sendo correspondida no amor.
Uma mulher, com mais de 70 anos, passa andando com outra que imagino ser sua filha. As duas conversam sobre o que irão fazer durante tarde e no almoço de logo mais, agora que já perderam a manhã em uma consulta que foi desmarcada em cima da hora. Elas avistam um ônibus e pedem para que pare imediatamente. O motorista faz sinal de que o veículo está cheio, mas elas insistem e entram. É. O tempo corre e elas não podem perder mais minutos deste dia. Ou será que elas podem? Talvez a beleza esteja no que não aconteceu. O que teria acontecido se elas tivessem esperado por mais dois minutos?
Os carros passam individualmente e ocupam cada faixa da pista. Os motoristas seguem o fluxo concentrados e sozinhos. Os mais histéricos, buzinam por qualquer sinal de lentidão. Vez ou outra passa alguém sentado no lugar do carona. Quem passa ouvindo música parece mais relaxado e feliz. Cantam no mesmo tom da sinfonia da beleza do dia e até param nas faixas de pedestre. Sorriem a cada "obrigado" lançado por quem atravessa.
Um ciclista passa em seu ritmo por todos os carros ouvindo música e sem temer acidentes. Dá para ouvir ruídos do que escuta. Ele segue atento a tudo e impõe seu espaço. Um grupo comenta a atitude do rapaz: “oxe, ele é louco”, “ele tá é certo em ser livre”, retruca um outro, que usa um boné para escapar do sol forte que saiu. Ele veste um macacão de uma empresa e está pronto para voltar ao trabalho.

A vida segue, sem previsão e com precisão. O sol venceu as nuvens até então. E as nuvens se dissolvem pelo azul do céu, como soldados se retiram do campo de batalha. No fim as nuvens se perdem, se distanciam e nunca mais as veremos da mesma forma, assim como os segundos que acabam de passar.
As pessoas continuam se movendo, a cada instante a rua ganha um novo cheiro do novo transeunte. E nesse mundo, todos são como nuvens que chegam, se movem e vão embora. A vida segue, mesmo quando o que os humanos preveem não surge.
O que talvez não entendam é que a beleza está, muitas vezes, no que ainda não aconteceu e no que não é possível prever. Abrir os olhos todas as manhãs é sempre uma experiência de conviver com incertezas. E se àquelas mulheres estivessem esperado dois minutinhos? Você já se perguntou o que aconteceria se seguisse por outros caminhos?
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