_reencontros



Encontrei você outra vez e não te reconheci. Seus olhos estavam opacos, seu corpo magro e o sorriso amarelado. Com os cabelos mais ralos e marcas de expressão mais delineadas no rosto, noto que o tempo passou para você. E para mim não teria passado? Se tratava de tão pouco tempo. Quando foi a última vez que tinha te visto? E o abraço, há quanto tempo não trocamos um? Faz falta?

Lembro-me de o telefone vibrar nos últimos minutos do ano passado. Era uma chamada sua me desejando tudo de bom nesse novo ano. E ouvi: “que fiquemos mais juntos, que possamos nos ver mais”. Não imaginei que tudo àquilo fosse algo que logo se perderia no tempo e no vale das promessas que não podem ser cumpridas, porque não vem do coração.

Inocência minha achar que por pura mágica, nós nos renovaríamos e investiríamos numa relação saudável e feliz. Um engano. Nas tentativas de fazer essa união ser real, me entreguei. Com todas as dores e lágrimas, me renovei. Fui até o fundo da dor. Perdi tudo que tinha conquistado até então. Mergulhei na solidão, na dor da rejeição contínua, descarada e escancarada que vinha das suas ações. E você?

Eu disse adeus algumas vezes. Ensaiei despedidas, mas no final a minha saída foi muito mais sútil. Encostei a porta e quando vi, já havia passado um mês, dois, três. Algum sinal seu? Não até esbarrarmos em um corredor. Senti dó de você e preocupação, o que andam fazendo com a sua vida? Aliás, o que está fazendo com ela?

Parece que adotou um comportamento destrutivo. As pessoas com quem agora se relaciona são realmente amigas? E se você tiver um problema sério, será que elas irão te ajudar, quando não puder ter condições de manter o elo que as une? Queria poder conversar, dizer que não precisa dessas amizades para ser alguém querido, menos ainda entregar-se a comportamentos destrutivos. Onde estão os seus antigos amigos? Se afastaram porque cansaram de esperar você voltar?

Onde estão as pessoas que te amam e ajudam a te mover para frente? Lembra-se do quão te ajudei a se tornar mais confiante? Essas pessoas te ajudam também? Não me cabe entrar no mérito, mas cada um sabe quem e o quê acrescenta na vida do outro. Ao menos na época em que vivíamos juntos não havia tristeza em seus olhos. Aliás, foi por eles que tudo começou e também por onde terminou.

Agora sigo atrás de mim mesmo, do amor que perdi enquanto amava você. É como eu te disse nas nossas últimas conversas: o que eu te ofereci, pessoas passam a vida inteira sem conhecer ou receber. Será que seria capaz de ver o tamanho e a intensidade disso? Talvez por isso tenha tentado me matar de tantas formas violentas.

E o futuro das minhas relações? Agora não é o momento de me envolver. Não quero ninguém para te substituir ou para dar e viver o que sonhei com você. Ninguém deve ou merece estar na condição de borracha de relacionamentos passados, por isso, fico em paz. É o bastante e saudável. Divago sozinho atrás do que me faz feliz. E se alguém resolver andar comigo, que venha para somar, não para me diminuir. O seu erro sempre foi me diminuir, talvez por isso tenha a sensação tão latente de que nunca me conheceu de verdade. 



  

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