Tradução





O silêncio dela entrou pela porta estreita abraçado com a saudade. Ele encarou-os por alguns segundos com os olhos vermelhos. Desejou não tê-los notado e que não estivessem tão próximos. Embora esteja calmo e menos ansioso com tudo, ainda sente as marcas no corpo do trator que o atropelou.
            É a hora em que o conflito da racionalidade se instaura, porque a emotividade faz querer tudo a qualquer custo. O lado emotivo traduz como urgência, prioridade e imediato. O lado racional é burocrático. Quer tempo, análise, autorizações e segurança.
Tanto faz o que cada lado queira porque hoje ele não quer falar sobre ela. Não quer falar com ela, porque ela nunca quis falar com ele. Em outras palavras, sentiu os efeitos do silêncio dela e da saudade, enquanto vislumbrou algo que jamais existiu. O corpo atropelado na tradução feita no coração evidencia os traços da imprecisão.
             Ainda que existam no plano real, nunca existiu ele e ela. Falas no ar são o silêncio. Embora próximos, sempre distantes. A proximidade é mera ilusão. Quiçá por isso seus olhos estejam vermelhos: por já não conseguir viver da imprecisão. 



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