Atmosfera rarefeita

Existe uma linha em que é proibido atravessar, porque ela é a garantia da sobrevivência



Respiramos bem fundo como se pudéssemos nos salvar de nossa própria condição angustiante. Palpitações a todo o lado, esferas do pensamento se renovam e são arquivadas initerruptamente. Quem controla o quê?
Respiramos fundo tentando entender toda a bagunça partilhada e experimentada. Tentando encontrar ordem, um sentimento concreto para se sustentar até a próxima reflexão. O corpo treme olhando ao redor, como se pudéssemos, num piscar de olhos, transformar tudo e todos.

Respiramos forte. Tentamos nos compreender, mas já cientes do quão perdido se está e que a certeza é sempre rarefeita. Há uma linha em que não se atravessa, porque ela é a garantia da sobrevivência. A linha dos seus pensamentos proibidos e que te tira da maior de todas as zonas de conforto. Ela separa o conhecido do desconhecido, o equilíbrio do caos. Não há como avançar uma barreira que não se vê e teme. Nem sempre há condições para avanços introspectivos e autoconhecimento.
Bagunça introspectiva. Não sabemos por onde começar a arrumar. São tantas bases densas e invisíveis. Ao mesmo tempo, quando arrumamos um canto, percebemos que há tantos outros bagunçados. A angústia é inerente. Entristece-nos porque queremos que tudo caiba no nosso ciclo biológico de vida ativa e do convívio social.
Respiramos forte mais vezes, seguidas vezes. A atmosfera seca e quente nos domina. Sentimentos são engolidos segundo a segundo. Queremos entender os momentos de silêncio e da histeria da mente inquieta. Tenta-se esconder as vergonhas e limitações. Respiramos forte diante do frágil e na busca por equilíbrio.
Respiramos mais uma vez. Agradecidos pela respiração se renovar, mas eternamente ingratos por saber que esta salvação não será contínua. Nada é continuo. Assim, respiramos forte e tentamos arrumar uma bagunça que não começamos, mas que ajudamos a perpetuar.
Fechamos os olhos e nos voltamos à particularidade assustadora e pouco conhecida. O ar dos pulmões sai cada vez mais quente. Não há condições de encarar tudo sozinho por tanto tempo, por uma vida. Respiramos forte tentando encontrar o equilíbrio e a eternidade de um sentimento que jamais poderá ser.


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