A liberdade plena de Adam
As luzes acesas dos postes deram o sinal de que mais um dia chegava ao fim. Para Adam, depois de vagar por ambientes escuros, só restou descansar o espírito retornando para casa. Desfez de tudo que carregou durante o dia e foi direto para cama, ainda que os sons abafados dos carros não cessassem.
Ao deitar a cabeça no travesseiro, começou a dar liberdade aos seus pensamentos, até então represados pela ordem. Suspirou e confessou:
– Estou exausto.
Embora não tivesse feito nada fora de sua rotina, se sentia exausto.
Em meio aos grunhidos de seus pensamentos, lembrou-se do dia, das noites passadas e dos seus anos de vida, como quem faz um balanço antes de agir. O conflito introspectivo não o permitia relaxar: eram os seus olhos cansados de sono e os seus pensamentos afoitos, por estarem libertos, disputando a sua energia.
Os seus pensamentos silenciaram, quando chegou à conclusão, em meio aos sussurros:
– A liberdade plena não existe. – esquivou-se para o lado e retornou ao centro, ao a constatação alcançar o plano da racionalidade. Parou o olhar num ponto do teto por alguns instantes. Era forte demais para absorver.
Como não conseguia se desvencilhar das próprias bases experimentais, traçou várias hipóteses na tentativa de entender o que chegou a sua mente. Aos poucos notou que para alcançar o mais próximo da liberdade plena, seria preciso ceder, descartar e transformar. Mas não sabia se estava disposto a tantos movimentos, nem sequer compreendia se a liberdade plena lhe seria útil. Talvez a sua conclusão possa até ser justificável e aceitável, mas nada aparentou domínio e compreensão instantânea, enquanto permaneceu deitado em estado de atenção.
Como não conseguia se desvencilhar das próprias bases experimentais, traçou várias hipóteses na tentativa de entender o que chegou a sua mente. Aos poucos notou que para alcançar o mais próximo da liberdade plena, seria preciso ceder, descartar e transformar. Mas não sabia se estava disposto a tantos movimentos, nem sequer compreendia se a liberdade plena lhe seria útil. Talvez a sua conclusão possa até ser justificável e aceitável, mas nada aparentou domínio e compreensão instantânea, enquanto permaneceu deitado em estado de atenção.
Como ainda havia poucas opções, debruçou em suas notas imaginárias, tentando compreender as palavras que estavam soltas em sua consciência. Fadigou-se com a própria vida, ao notar que volta e meia se perguntava as mesmas coisas, bebia das mesmas angústias e sentia as mesmas frustrações. O que talvez mudasse é a intensidade de cada momento. A essência de suas experiências se repetia e tornava tudo desinteressante. Mas ele detesta justificar tudo isso e sente-se mal quando não alcança o entendimento de suas complexidades dos seus sentimentos, das suas ações e controle vital.
A aflição de Adam passou a girar em torno de apenas um sentimento: o medo. Quebrar os ciclos não é uma tarefa fácil, mesmo para alguém como Adam, que já viajou por tantos pensamentos, momentos e realidades. O viajante nato talvez precisasse de um tempo sozinho, com a mente vazia, ou do oposto? O meio termo não resolveria as tensões por muito tempo, mas seria a ponte para o outro lado da praia, do paraíso, e quem sabe a tão sonhada liberdade plena, que embora não saiba, lhe é vital.
Enquanto se esquivava pros lados, ainda tentava entender a conclusão que chegou. Lembrou-se da última noite, quando resolveu dormir mais cedo. Anestesiado com seus pensamentos observou estrelas pela janela, esperando ser vencido pelo sono e sonhando muito alto. Constatou:
– Se não tivesse tanto medo, poderia ter voado a ponto de tocar estrelas e andar pela lua, andaria por territórios desconhecidos ou imaginários.
O medo o impediu de muitas coisas e o deixa no mínimo atônito com o próprio futuro. Parece sempre haver um mas e um se nos seus pensamentos e sonhos.
O que precisava mesmo é ter noção do que poderia ser valioso para si. Inclusive reconhecendo os próprios sentimentos. Valiosa é a sua capacidade em realizar-se e explorar o mundo. Talvez essa seja a tão sonhada liberdade plena que lhe é vital. Egoísmo de autodefesa, sobrevivência.Chega a ser inviável e algoz viver parte da vida como figurante da história em que o único protagonista é ele mesmo.
O seu medo de olhar-se no espelho, de reconhecer os seus problemas, as suas crises só intensificava a necessidade da liberdade plena. Enquanto virava para o lado, mais uma vez vencido pela fadiga da ausência de conclusões, ouviu:
– Tudo bem Adam, você é mais do que imagina ser e tudo que já viveu precisa ganhar o sentido de aprendizado. Que tolo de sua parte achar que a liberdade plena não existe. Ela é, na verdade, tão real quanto a sua vontade em ser livre.
Penetrando em sua consciência, quem sabe no dia seguinte acorde disposto a alcançar e experimentar a sonhada e vital liberdade plena.
# Footnote:
Todo dia é dia dos pais, todo dia é dia para amar e receber homenagens. Então, hoje é apenas mais um dia de potencializar os sentimentos.
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