CENA ADICIONAL #02

É mais um dia de terapia...

Cena de terapia

é mais um dia de terapia para Vitor...

Vitor engole em seco, tentando organizar os pensamentos.

— A mente é mesmo uma ilusionista — ela continua, sem perder o olhar clínico. — E talvez essas figuras de quem você tanto falou um dia… Maitê, Renata… sejam apenas projeções. Símbolos de algo que você nunca viveu, mas que sua mente idealizou.

Ele sente o corpo gelar ao ouvir esses nomes. Elas são tudo que ele mais apreciava na vida que acredita ser real. Como podem minimizar os sentimentos dele? Como podem dizer que o seu amor é uma ilusão? Ele suspira, encontra uma versão estável e responde:

— Exatamente, Pedro. Sua mente pode estar tentando te proteger, mesmo que de uma forma distorcida. Essa talvez seja a sua armadilha silenciosa, entende? Porque, se você continua acreditando que essas experiências passadas são reais a ponto de te imobilizarem, como se essa vida como Vitor tivesse realmente existido… pode acabar se afastando da sua verdadeira realidade, daquela em que era feliz. E afastar as pessoas que estão aqui para você agora: Diogo, seus amigos, sua família… Você quer mesmo viver preso a alguém que talvez nunca tenha sido real?

Vitor sente a garganta se apertar, engolindo a seco enquanto digere as palavras da terapeuta. A possibilidade de que ele tenha criado tudo o assombra. Se nada disso for real, então… o que ele ainda tem? Ao mesmo tempo, se tudo for mesmo uma ilusão, ele pode assimilar a vida de Pedro sem que carregue a culpa pelo abandono da filha e esposa.

A terapeuta examina cada traço do rosto dele, cada mudança sutil na expressão, mas percebe que algo não se encaixa. Por mais que Pedro diga querer seguir em frente, seu olhar como Vitor carrega um misto de dúvida e cansaço. Algo em sua postura revela uma luta silenciosa, uma resistência.

Vitor, por sua vez, internamente se sente exausto. Ele não aguenta mais a dualidade e a pressão psicológica vindo de todos os lados. O que ele ainda precisa descobrir e aceitar desse mundo estranho para aquietar a alma?

© Vinicius Gericó — Mar Negro. Todos os direitos reservados.

Comentários