E esse tal apocalipse?


Profecias, relatos e medo. Estaríamos pronto para aceitarmos o fim?




Sem ondas gigantes, sem bolas de fogo, sem tempestades fortes e furacões. Sem histeria coletiva, num silêncio individual e maçante, muitas coisas tiveram o seu fim. Sem qualquer barulho ou turbulência, acabou. É mesmo o fim para muitas coisas. E agora, frente-a-frente com ele, muitos desafios e poucas respostas.
Foto: Google Imagens.
Li sobre muitas profecias afirmando, categoricamente, o fim do mundo. Talvez estivessem certos. Acabou o mundo da forma que conhecíamos, mas isso tem acontecido num processo contínuo. Os valores são outros e o que movimenta o ser humano têm sido outras coisas também. Vivemos num mundo que se comporta, silenciosamente, como se ele fosse um eterno faz de conta. Assim, por vezes, fazemos de conta que somos felizes -- principalmente em redes sociais -- de que cuidamos do planeta, de que respeitamos o outro e de que pensamos num futuro em longo prazo. Confundimos sentimentos com posse, e felicidade com marcas ou qualquer coisa que remeta ao material. Condicionamos as nossas lembranças espontâneas a equipamentos e buscamos o registro superficial de tudo -- mesmo que para tal, esqueçamo-nos de viver o momento. Vislumbrando poder, um dia, acreditar e narrar os acontecimentos de uma forma diferente da vivida, como se estivéssemos construindo outro mundo, em meio a um universo paralelo.
Ouvi dizer que teríamos de ser muito fortes, porque teríamos muitas perdas. Só que o que a gente não entendeu, até então, é que estas perdas nem sempre são materiais e visíveis. Já não podemos dizer o mesmo dos seus resultados, tão concretos e visíveis, quanto qualquer outra comoção.
Foto: Google Imagens
A transformação está no ar. Um fruto apetitoso e belo que vimos há alguns meses, não parecia que estava podre por dentro, ou que viesse amadurecer excessivamente a ponto de apodrecer por inteiro. Estruturas de longa data, em pouco tempo, ruíram e se converteram em uma estorvante pilha de escombros. E aos sobreviventes, apenas o desafio de reconstruir um imaginário tão submetido às instabilidades, que é viver com o interesse do outro. O que apodrece vira adubo e o que é escombro pode ser reaproveitável.
De tal modo, para que este mundo acabe é necessário que você acabe primeiro com a forma que você tem visto o mundo e as pessoas. O mundo não precisa de vítimas, mas de pessoas dispostas a construir ou reconstruir quando for necessário. De nada adianta conhecer valores, se não pode internalizá-los ou tampouco aplicá-los a tudo que faz.
Um ciclo se fecha para que outro tenha a oportunidade de começar. Não é preciso que estruturas de concreto estejam em ruínas para termos a chance de construirmos algo novo, mas se assim for, que tenhamos a capacidade de construir algo melhor e louvável. Talvez esta seja a sabedoria, deixada pelos nossos ancestrais, que ainda não nos demos conta. Nos julgamos tão espertos no século XXI, mas será que estaríamos realmente prontos para encararmos um fim definitivo? E mais ainda: estaríamos dispostos às mudanças que o amanhã pede energicamente?
Este fim de mundo, ou este tal apocalipse, precisa de fato ocorrer. Precisamos acabar com o modelo de mundo que mais tem nos causado infelicidade, mortes, injustiças, do que paz, satisfação, respeito, sustentabilidade e amor.

# Footnote:

Muitas (muitas mesmo!) saudades de vocês, do blog e de escrever algo diferente do tema do meu TCC. Bom, agora que tudo terminou e finalmente posso ter uma vida social novamente, cá estou! Muito feliz com tudo. A pauta do blog está feita e pretendo publicar muitos textos.
Agradeço a todos pelas mensagens enviadas perguntando quando o blog retornaria, aos meus queridos amigos pela paciência e incentivo neste período, enfim, a todos que estão presentes de alguma forma!




Comentários

Oi Vin,

Tudo bem? Espero que melhor, após TCC. Você não posta com frequência semanal, mas sempre traz excelentes textos.

O meu filho falou hoje algo muito semelhante ao seu texto. Ele disse assim: Mãe estamos nos transformando muito rápido, pense nisso e viva a nova era.

Enfim, estamos vivos.

Feliz natal!
O que me veio na mente foi que nós (todos) não estamos mais com aquele pensamento de antes, como nas músicas sertanejas de rais (moda de viola) ou ainda como nas músicas de L. Gonzaga que retratava momentos da nossas vidas (pacatas ou não) em músicas. O menino na porteira, a desavença com o filho, a história de um boi que foi condenado pelo médico mas que demonstrou ser mais forte que a ciência e por aí vai. Seu segundo parágrafo me fez notar que nossas músicas de amor, retrata na verdade o consumismo e um sentimento reprimo de amor materno e paterno, além não sabermos mais usar a estética das coisas para falar da simplicidade. Queremos apenas que as coisas dêem certo, nem que tenhamos que apertar tudo numa coisa só ou pagar pra parecer bom. Abraço mano
Vinicius disse…
Oi Lu, sempre um prazer ter você aqui!

Pois é, estamos vivos, mas será que realmente estamos prontos para de fato mudarmos?

Até mais!
Vinicius disse…
Obrigado pelo comentário Rafa!

Pois é, as coisas que a gente quer que dê certo, nem sempre dão, é melhor que estejamos preparados para tal e mais: tirar um aprendizado do que foi vivido.

Abraço!