INvolução e o poder de escolha ilusório, tempos modernos





Em um ano de eleições, discussões e reajustes, eis que uma parte significativa do país curva-se para abordar a vida de uma brasileira anônima fora do país, que virou um hit na internet por conta de uma frase comum em uma peça publicitária. Neste mesmo ano, há quem baseie seus dias numa discussão de um possível estupro. Defendidos pela velha máxima de que entreter-se não significar letra-se. Há quem defenda que alienado fica quem quer, mas até que ponto temos escolhas?
Se pararmos para pensar onde está o objetivo dos canais de informação em informar e contribuir para criticidade da população, certamente não encontraremos frutos e perspectivas positivas -- há exceções, claro. Mas há uma falsa sensação alimentada de que fazemos escolhas de conteúdos. Ora, será que conteúdos selecionados por interesses próprios representam poder algum de escolha? No máximo você seleciona o pior do menos pior. E a máxima de que alienado fica quem quer, pode valer para quem tem e quer meios alternativos de descobrir os outros fatos -- o que imagino não ser a realidade de 80% da população, refém das mesmas fontes e da cultura de manter-se conformado, comportado, confortado e pronto para tirar proveito das migalhas.
O ano muda e as mesmas necessidades falsas são recriadas, enquanto a economia do país cresce sem que a população sinta totalmente os frutos do seu crescimento. A centralização de renda, o sucateamento do ensino público -- não me refiro apenas ao médio e fundamental, mas ao superior também -- a saúde para poucos, o sistema de transporte, serviços e infraestrutura falhos, já são velhos conhecidos.
Não sou fã do discurso revolucionário de que o empresário é sempre ruim. Ao contrário, imagino que se ele tira o máximo de proveito, é sinal de que nós, enquanto população usuária dos serviços, permitimos tal exploração por temer exigir qualidade nos serviços prestados. Da mesma forma que alguns políticos votam em projetos e ementas que favorecem aos seus cargos e põe na gaveta ou resumem a inércia projetos de interesse coletivo. Pior do que isso é a população voltar-se contra toda e qualquer manifestação que vise melhorias ou mudanças no seu próprio contexto.
Alienação é abster-se dos direitos e do direito em conhecê-los. Alienação é engolir e cuspir arrogância e dizer que está tudo bem. De fato pode estar para alguns, mas não para grande maioria que enfrenta problemas diários tão ignorados pelos órgãos públicos e privados. A então a população que vivem em condições de extrema miséria, ainda sim é explorada até que ela possa deixar de existir e incomodar, ou se resumindo em aparições específicas como nas eleições, peças publicitárias ou programas televisivos.

Fama, vencer na vida, futuro e presente

Assustadora é a forma de que as pessoas atualmente encontram para se tornar popular e obter fama. Mesmo que para apresentar um programa sem qualquer cunho racional. Mais assustador ainda é a importância que é dado por diverso canais, que legitimam estes personagens perecíveis, que a população considera normal e passa a venerar.  
Quando qualquer acontecimento sem importância para maioria se torna pauta, é sinal de que estamos correndo grandes riscos. Os problemas e discussões relevantes são colocados para o segundo plano, porque estamos sempre ocupados procurando e assistindo, o que afirmam dizer, ser a válvula de escape.
Fica extremamente fácil compreender o porquê da reprodução de tantos discursos vazios, afinal de contas, querem que nos tornemos cada vez mais alheios as nossas realidades e necessidades reais, para ingressar num mundo repleto de elementos ignóbeis com objetivos puramente individuais.
Quem se importa com alguma coisa séria, se há algo melhor que possa se entreter e rir? Conviver com a involução tão acelerada é um martírio. A triste realidade é que as pessoas preferem a ilusão, para não ter de ter o trabalho de mudá-la para o que consideram utopia. Estes são os tempos modernos. Nos permitem falar, mas não somos ouvidos por pura falta de interesse.



Um novo ano começou,
Vinicius Gericó [blog]: A escolha é a liberdade



Comentários

Rodrigo Martinez disse…
Triste. Tem gente que se preocupa mais em saber se Luíza está ou não no Canadá e se esquece de assuntos importantes.
Carolina Hanke disse…
Pois é... Achar que o que o carinha lá falou no comercial ficou meio fora do contexto até vai, mas fazer esse fusuê,virar fã da menina e provavelmente, ainda ouvirei algo como "Sou seu fã!" é MUITO BIZARRO.
Porque o brasileiro tem capacidade de virar fã de qualquer zé mané que aparece na TV. É FODA.