Mar negro - Parte III

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Sinopse: ‘Mar Negro’ é a sequência de experiências multidimensionais narradas por um personagem que volta e meia é levado para conhecer e viver outras dimensões do universo. Apesar da dificuldade em descrever cada um dos momentos que viveu com palavras, o personagem consegue aos poucos apresentar o que aconteceu, assim como os passos para repetir as experiências fora das dimensões tradicionais.

Gênero: ficção

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Parte II


III


Tudo é escuro a ponto de não existir diferença entre estar de olhos fechados ou abertos. Não vejo o meu corpo. Permaneço imerso à escuridão por um tempo, não sei precisar por quanto, porque quando se está só e no escuro uma hora facilmente pode parecer um dia, e um dia uma década. Se durmo durante a estadia, não sonho. Toda a minha companhia é a escuridão e não há como se acostumar ao silêncio e a ela. Me incomoda, quero ver vida outra vez.

Pingos de luz emergem no pretume que insiste em ofuscar qualquer coisa que lhe pareça estranho. Noite e dia não existem e menos ainda passado ou futuro. Aos poucos, dou conta de que estou naquele mesmo lugar que outrora o meu espírito estivera, não em uma cabana, mas no entorno. Sinto a velocidade do meu eu ao transitar rapidamente entre os pingos de luz.

Viajo pela luz e pela gosma escura que não gruda. Teria caído no mar negro sem me dar conta? Não respiro, não sei se nado, se estou voando ou flutuando por tudo. Em meio a escuridão, não faz diferença alguma o lugar que estou. Avisto algo semelhante a um berçário marinho. O mar negro é profundo e estranho a tudo que me é conhecido. Há beleza no que temo, por isso facilmente me entrego. 

mar negro é profundo e estranho 
a tudo que me é conhecido. Há beleza no que temo
Mar Negro

Poeira e gosma se fundem e se movimentam em torno de mim. Olhava para baixo e não conseguia ver o fim e nem caminho para seguir. Na realidade, em um dado momento, percebi que não conseguia pisar em nada sólido. Permanecia em movimento, sem saber ao certo como me movia. Começo a suspeitar de que estou em órbita de alguma coisa.  

Parte de mim se sente impotente. O que posso fazer diante de tudo? Brigar, questionar? Mas a quem? Com quem? Poderia pensar em escapar, mas como posso traçar planos de fuga para algo que não sei o que é? Não há o que fazer a não ser me entregar ao que quer que seja àquilo. O assustador é que tudo era relaxante e pedia passividade. Desliguei de mim e naveguei por àquele universo. 

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Conforta àquela concepção humana de tudo que tem uma causa, provoca algum efeito e eu esperava entender o propósito em ter mergulhado nesse mar. Para cima, para baixo, desacelero. Tudo agora segue um ritmo mais lento e ameno. Tão mais calmo que noto o escuro ser preenchido por inúmeros pontos brancos brilhantes, entre eles, avisto uma bola azul gigante. Depois de tanto tempo no escuro, reconhecer outras cores me traz de volta à vida. Sou atraído por ela e acelero em rota de colisão. Sou um asteroide pronto para me chocar na esfera azul.

Um planeta? Estaria pronto para encontrar àquele lugar outra vez? A possibilidade me anima. Caio em queda livre, mas sem dor. Sou engolido pelo azul até chegar ao solo. Encontro com um eu novamente, mas desta vez este corpo não é o que conheço. Sou outra pessoa, mas me reconheço tal qual o ser terrestre que sou. Meus olhos escanceiam e tentam decodificar o que há de diferente e o que está ao meu redor. Avisto também algumas construções naturais, algo como colinas de areias e rochas alaranjadas. Em que parte do universo estou?

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