Dos grandes amores ao limbo do esquecimento


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Existem pessoas que passam por nossas vidas como um trem desgovernado. Elas chegam, transformam – em alguns casos, perturbam toda a ordem – e depois partem, quase que em silêncio, durante uma noite qualquer. É curioso se apaixonar por alguém e, após um tempo, perceber que esse sentimento não existe mais, que ele misteriosamente evaporou.

Nada disso significa ser ruim ou bom, é apenas interessante observar a trajetória do sentimento em cada relação: dos grandes suspiros, noites em claro e trocas intensas, ao eterno limbo do esquecimento.

Costumam descrever esse curso de chegar ao limbo como 'superação'. Mas, cá entre nós, me pergunto o que é que isso tudo pode significar. Principalmente em função da imprevisibilidade na duração desses processos. Há amores que chegam em um dia e demoram anos para irem para o tal limbo, outros, que na mesma da hora em que parecem eternos, ruem e deslizam até ele. Tão veloz que sequer compreendemos.  

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Parece estranho abrir um álbum e ver fotos de alguém com quem se dividiu uma vida, mas que se tornou desconhecido. E há uma contradição, porque ao mesmo tempo em que se tornou desconhecido se é minimamente reconhecível. Àquelas palavras trocadas, antes indícios de sentimentos, também parecem estranhas, descoladas do real. Quando algo é sugado para esse limbo do desconhecido, dificilmente volta.

Não existem vilões ou mocinhos quando o assunto é o sentimento por alguém. Não se pode obrigar a puxar de volta do limbo do esquecimento uma pessoa só para que uma outra se sinta melhor. Vale, no entanto, para todas as relações, o cuidado em lidar com o que o outro sente. Isso inclui, evidentemente, respeito e sensibilidade.

Ser dono de um limbo é mais confortável do que ser a pessoa que vai para ele. Porque, por mais que existam tensões, no geral, as pessoas não gostam de serem esquecidas. Mas, nessas idas e vindas de sentimentos e relações, cada um de nós ocupa uma posição diferente: ora no limbo, ora jogando alguém nele.

Por isso, não é tão incomum ser amado em um dia e no outro abandonado. Assim como amar muito alguém e, no dia seguinte, querer distância. São as regras implícitas do coração e das relações afetivas. Poderia ser sem dor? Gostaríamos.

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