O eterno





Das sensações mais temidas, talvez o eterno seja a que mais assuste. Não é que ele seja ruim em si, mas é justamente a imprevisibilidade do que somos capazes de fazer pensando nele, mostra-se suficiente para fazer temê-lo. É como numa bolsa de valores, tudo que o acompanha, de repente, pode deixar de existir, inclusive o próprio.
O poder que o outro tem em alimentar o eterno é idêntico ao que você é capaz de alimentá-lo nos outros. Lei da ação e reação. Tudo é infinitamente menor do que as suas expectativas quanto ao que está sendo supostamente eternizado, ou pelo menos diria que é esta a sensação.
Não bastasse o que os outros são capazes de fazer com ele, há no meio de tudo as nossas lacunas, que são preenchidas a partir do que dizem ou dão a entender. Os efeitos do eterno são precisamente divididos em duas partes bastante óbvias: o lado bom e o lado contrário (não chega a ser lado ruim). Enquanto estamos no lado bom, a certeza do eterno neutraliza qualquer chance de perda. Essa ilusão, aparentemente nociva, por vezes é saudável, porque ela nos faz agir a partir desta ingenuidade. É confortável crer que o eterno daquela circunstância seja real. Quanto ao lado contrário, bom, ele não é nada confortável, mas não chega a representar o insuperável.
Início, meio e fim. Será que tudo deve e segue exatamente essa ordem? Os momentos de transição preocupam. Não são os fatos em si que causam problemas, mas sim os sentidos que damos a eles enquanto transitamos em experiências. Dúvidas são recorrentes, mas elas paradoxalmente, são convertidas em certezas quando olhamos um pouco para trás. Talvez note a decepção, ao acreditar facilmente no eterno e no que motivou a crer. A nossa parcela de culpa nisso tudo é visível: cedemos fácil aos encantos do que parece ser eterno.
Se as estrelas, há anos luz de distância dos nossos olhos, parecem próximas e conseguimos vê-las, com o eterno é a mesma coisa. Mas as estrelas não são eternas. Que ousadas são àquelas pessoas que nos oferecem o que chamam ou acreditam ser eterno. Ele nunca existiu. Talvez precisemos acreditar menos no que somos capazes de criar para essas promessas. Evitaremos problemas, mas deixaremos de viver certas coisas.  Eterna é a dúvida se deve-se crer ou não no que potencialmente se diz eterno.
Desconfiar do eterno? Talvez seja um afronto. Ele é tão superior a qualquer outra coisa. O que é perecível incomoda, parece valer menos. Será? O eterno é sempre jovem, esbelto e cheio de vida, facilmente seduz e facilmente cega, por quê desconfiar dele? Mas como não se apaixonar por ele? Envergamos sempre no início, no eterno, no meio e no fim.


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