Quando amamos (segunda versão)





Quando nos imaginei lado a lado, realmente pensei que seriamos felizes como nas estórias infantis. Por um tempo, criar e acreditar em absolutamente tudo que vinha de você fazia muito sentido.



Quando estamos apaixonados fazemos coisas que em momentos de lucidez dificilmente faríamos. Começa com uma simples mudança de rotina. Irei pelo caminho para que eu possa me encontrar com o meu amor. Não é assim que pensamos e fazemos? Quantas vezes praticamos o ridículo para seremos notados? Vale tudo para conquistar um sorriso ou um olhar. O pior é que nem nos damos conta do que estamos fazendo. Somos mais carentes e sensíveis do que imaginamos ser e do que queremos acreditar.
Quem nunca passou pelo mesmo caminho mais de uma vez, para que àquele alguém visse e viesse cumprimentar? Quem nunca olhou timidamente para a direção do seu amor e ficou a observar e fantasiar, até ser notado, para então virar bruscamente como se nada tivesse acontecido? Quantas vezes desenhamos corações em folhas de papel, desenhos sem sentidos para quem esta de fora, mas no consciente -- e mais ainda no inconsciente -- repletos de sentidos, desejos e de sentimentos. Agimos como outra pessoa, porque de fato nos tornamos outra. Esquecemos conceitos, preconceitos e no auge dos sentimentos agimos em prol do amor.
O frio na barriga, o medo, a incerteza, a insegurança. Fantasiamos, sonhamos, acreditamos. Nos tornamos egoístas em prol do que sentimos e voamos sem nos darmos conta de que precisamos aprender a usar os freios. Quando amamos voamos demais, voamos tanto que nos esquecemos de por os pés no chão para descansar. Mas naquele momento não nos vem à cabeça qualquer tipo de descanso. Já que tudo parece contínuo e permanente. Amar é um vício. É puro, instintivo, nos deixa bem e transforma.
Somos capazes de qualquer coisa. Fazemos promessas loucas, ilógicas e acreditamos em muitas destas coisas, porque o que sentimos parece ser tão eterno e único, que tudo é ingenuamente credível. O coração batendo de maneira rápida e ao mesmo tempo devagar, o frio na barriga, pura adrenalina e energia. Um beijo recebido, o amor. Nos apaixonamos com tamanha intensidade, que esquecemos o que esta ao nosso lado, fazemos as coisas mais chatas com um sorriso bobo e espontâneo no rosto. Quem nunca se sentiu bem ao imaginar que há alguém especial esperando os seus beijos e abraços? Quem nunca deitou e desejou ter ao seu lado, alguém capaz de dar vida a esses sentimentos tão únicos e envolventes? Cegos, surdos, mudos? Apenas quando convém. Lógicas se dissolvem e se transformam o tempo inteiro. Com o amor não é diferente, quem entende? Nem você, nem eu, apenas sentimos.
Quando tudo termina e as coisas voltam para o lugar, finalmente nos damos conta do quão voamos e do quão ficamos cegos. Foi bom? Excelente. Mas e a perda? O chão se rompe e tudo parece tedioso. Vem à fase do ‘eu quero ela/ele’, ‘por que você foi me deixar?’, ‘nada mais faz sentido?’. Na companhia de doces e lágrimas a filosofia da tortura começa vendo os filmes de romance e casais de mãos dadas na rua. O mundo parece outro e tudo é mais do que suficiente para nos fazer chorar e lembrar do que acabou. Vemos significados onde racionalmente não há ligação e então enlouquecemos novamente, agora o sentido é contrário. O contrário sempre parece desconfortável quando quebra as nossas expectativas.
Por fim temos de acabar convencidos de que para sermos felizes não basta estarmos apaixonados e sermos correspondidos. Não basta enlouquecer e fazer o ridículo. Nos convencemos de que para ser feliz é mais do que necessário saber viver os momentos com intensidade a ponto de quando tudo mudar, saber ser alquimista e transformar o que foi bom, em maravilhosas lembranças, e o que foi ruim, em aprendizado. Saber transformar é a verdadeira virtude que precisamos ao amarmos. Usar os freios, quando tem de ser usados, ainda que pareça impossível. Aprender que para ser feliz como nas estórias infantis é necessário saber se transformar.
Perdendo -- nunca perdemos nada -- ou ganhando, sabendo transformar. Um egoísta em prol dos sentimentos e do amor só precisa se envolver e transformar. O amor é como uma onda do mar. Para aproveitar o que há de bom, sobrevivendo aos mais variados perigos, precisamos ao menos saber nadar. Não há manual, não há tantas respostas e nem teorias. Tudo se resume ao sentir e ao responder. Estamos todos envolvidos e vivendo deste mar. O mar que não tem fim nem começo, mas sempre que estamos diante dele, sentimos os efeitos de sua grandiosidade, mistério e beleza.

#Footnotes:
Não pude escolher foto melhor para ilustrar esse post. Belíssima foto de Robert Doisneau. 
Estou preparando um novo layout para o blog. Quase três anos por aqui, heim? É tempo. Várias fases registradas aqui.

Comentários

Priscila disse…
Nossa esse texto é tão real.
Lembrou momentos