Desaparecidos



Todos os dias pessoas desaparecem. Boas ou ruins, desaparecem. Todas com uma forma particular de viver, algumas com elos familiares fortes e outras nem tanto. Cada uma delas é um livro que compõe a estante da maior biblioteca do universo, que chamamos de vida.
Na maioria das vezes, quando elas desaparecem, não indicam para onde foram ou indícios do que aconteceu. Às vezes são sequestradas, outras vezes se perdem no mundo, ou simplesmente estavam no lugar errado e na hora errada. Acabaram sendo vítimas de algum tipo de violência, ou instantaneamente somem. Os entes próximos se desesperam. Imediatamente um vazio e sentimento de perda são instaurados.

Até que chegue uma notícia definitiva indicando se está vivo ou não, sofrem com a dor da dúvida, por desejar e acreditar numa verdade positiva. Isso é mais do que desgastante, é realmente torturante. Imagine a dor só de olhar para o telefone e imaginar que por ali pode chegar uma notícia boa, ou que pelo menos propicie o alívio. Olhar para porta e imaginar que por ali possa entrar a pessoa desaparecida ou alguém com informações verídicas que deem um desfecho para situação.
Nestes casos o final é mais do que imprevisível. Feliz, nem sempre. Triste, talvez. Duvidoso, sempre. Quem perde alguém querido, por este desaparecer do nada, talvez sofra mais do que saber que este alguém já não está presente. A dor da dúvida é realmente insuportável e imaginar que tudo pode ficar bem, às vezes, é mais do que difícil. Por mais que exista a fé e a esperança o tempo inteiro, ainda sim é difícil.
Com os sentimentos é quase a mesma coisa. Evidentemente que são dores distintas e contextos distintos. A semelhança está justamente no fato de que todos os dias sentimentos também desaparecem subitamente. Há pessoas sofrendo devido à ausência, a uma esperança de um retorno. Há uma dúvida fora do comum, se tudo foi real, se ainda existe e se ainda irá voltar. Eles desaparecem sem deixar rastros. Quem os sequestram ou os assassinam, ainda que involuntariamente não imaginam o quão impactante podem ser as consequências. A linha que separa o real da ilusão é muito tênue. De uma hora para outra, por mais espantoso que possa parecer, sentimentos podem desaparecer.
             Em ambos os casos tudo pode terminar bem, mal ou na dúvida. Mas quem sabe ao certo, se a biblioteca da vida se atualiza e se transforma o tempo inteiro? Com a biblioteca de sentimentos não é diferente. De uma hora para outra um amor desaparece ou se transforma em aversão, ou uma aversão desaparece e vira amor. Tudo é mais do que imprevisível, pelos simples fato de falarmos de coisas que não são projetadas para descrever, e sim para sentir. Quantas coisas desaparecem do nada e quantas delas realmente reaparecem? E o retorno? Há resquícios do passado? Viver com a esperança de um retorno de algo, alguém ou um sentimento, sem dúvidas é torturante.

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